DNA

Depois de andarem tanto tempo na contramão, 
as lágrimas, finalmente, escorrem de antemão diante da expectativa do encontro de um passado que não passou. 

As águas paradas se movimentam 
e eu me deixo estremecer. 

Meu edifício interno está frágil perante o abismo que é te encontrar em carne e osso. 

Sinto-me tão pequena diante desse momento.
Depois de 40 anos, orfã de pai, e você de filha,  não sei se saberemos o que dizer, ser ou fazer. 

Mas encontro coragem na minha vulnerabilidade aflorada para acolher e ir além dos temores infantis e das feridas de abandono e de rejeição de outrora. 

Tudo continua vivo dentro de mim,  e, por uma vez, me permito extravasar.

E assim fazendo, abro novas passagens, mapeando caminhos incógnitos que me levam a um desconhecido cujo 50% do patrimônio génético me é tão familiar.

Ariella Machado

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