Por que se mostrar boazinha
quando a raiva se avizinha?
Por que sorrir
quando o rosnado fica entalado?
Por que acatar ordens, no piloto automático,
do bicho alfa que se sente ameaçado?
Quando, de fato, é só mais um macho
também vítima do patriarcado.
O medo atávico da possibilidade de ser violentada
nos faz rastejar em camadas que não condizem
com a potência da nossa essência.
Engolir sapo tem seu preço,
a flor resseca, o coração se corrói e o corpo adoece.
Como usar nossa vulnerabilidade de fêmea cíclica como escudo
e assumir nossa franqueza, nossa impertinência e nossa TPM?
E que se danem os conselhos bem-intencionados e até bem-humorados.
Que possamos nos libertar das amarras internas
para cuspir fogo com gosto,
delimitar nossas fronteiras físicas e psíquicas com garra
para olhar no fundo dos olhos
com gozo.
Então aqui vai um recado para você que tenta, com maestria, me dominar:
eu te mando, alegremente, para aquele lugar.
Ariella Machado
Imagem: Marija Zaric by Unsplash